Sustentabilidade
15/04/2025COP 30: plano de ação e mobilização para sociedade e empresas é o grande desafio nacional
Evento de lançamento da Agenda Verde da FecomercioSP debate caminhos para a construção conjunta de uma estratégia efetiva contra as mudanças climáticas

A realização da 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, no Pará, em novembro deste ano, impõe alguns obstáculos que exigirão do Brasil mais do que ações governamentais. Nas palavras de Ana Toni, secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, o País precisará, acima de tudo, de agendas de ação, conscientização e mobilização da sociedade civil, das empresas e dos consumidores. “Quanto mais tivermos as ferramentas para trabalhar juntos — governos, sociedade e setor privado — em temas específicos, maior será a nossa capacidade de gerar um legado em temas que são importantes ao desenvolvimento do País, como a economia circular e a gestão de resíduos.”
A análise ocorreu durante o evento de lançamento da Agenda Verde da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), na última quinta-feira (10), com a presença de autoridades públicas, lideranças do Congresso e outras entidades, sindicatos e empresas. O plano da Federação abarca uma agenda de ação com 12 objetivos para que o País zere o desmatamento ilegal e a emissão de carbono, além de se tornar uma potência industrial em áreas estratégicas de produção sustentável e um modelo na gestão de resíduos sólidos, bem como expandir a eficiência energética.
Os entraves ambientais que o Brasil leva para a COP foram um dos temas tratados durante o evento. Segundo Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), o País tem a vantagem de conhecer os próprios desafios, garantindo uma posição estratégica no debate sobre mudanças climáticas, uma vez que grande parte desses problemas estão concentrados no desmatamento, especialmente na Amazônia. “A redução do desmatamento mostra-se vantajosa por dois motivos principais: economicamente, o custo para diminuir emissões é significativamente menor comparado com a transição energética de outros países; e em termos de imagem internacional, combater o desmatamento ilegal melhora a reputação do Brasil no cenário internacional. A maioria desse processo ocorre ilegalmente, o que significa que sua redução representaria não apenas um benefício ambiental, mas também um combate direto a atividades criminosas no território brasileiro”, enfatizou.
Contudo, falta ao País um plano de desenvolvimento da região, sobretudo que substitua o retorno econômico das atividades ilegais que, hoje, sustentam muitas famílias, Astrini complementou. “Não sabemos como investir, quais tecnologias adotar, onde teremos expansão agropecuária e os incentivos ao emprego, ao mercado de extrativismo e à bioeconomia. Nunca fizemos esse plano para entender a capacidade de geração de renda, os recursos e as dívidas naquela região.”
Além dessa questão, Astrini ainda mencionou a dificuldade, para a COP30 e a agenda ambiental, de garantir o comprometimento de nações desenvolvidas, as mais importantes para qualquer tipo de acordo, mas que estão em conflitos geopolíticos ou se retirando de tratados climáticos globais. “Neste momento, o ambiente não é de colaboração, mas de distanciamento.” Diante disso, esta COP também precisa de olhar ambicioso das economias em desenvolvimento, que estão muito suscetíveis às mudanças climáticas e cujo o custo tende a ser mais alto.
Mercado de carbono
Durante o evento, o professor José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, questionou Ana a respeito da possibilidade de se acelerar o processo de implementação ao mercado regulado de carbono no Brasil, tendo em vista que, mesmo após a aprovação da lei, no ano passado, será necessária uma série de medidas governamentais que demandarão um cronograma de vários anos.
A secretária enfatizou que, neste momento, estrutura-se a governança de como ocorrerá em termos processuais, as atribuições de cada pasta do governo. “Há um esforço dos ministérios do Meio Ambiente, das Relações Exteriores e da Fazenda, trabalhando juntos para acelerar este processo. E do ponto de vista internacional, estamos dialogando com países que tenham interesse de fazer uma parceria com o governo federal pra comprar créditos de carbono do Brasil, principalmente na área de resíduos. Agora, o grupo de trabalho está olhando para cada um dos setores para entender o custo do crédito de carbono internacional, bem como poderemos investir na nossa economia para acelerar a descarbonização de alguns deles.”
Goldemberg sinalizou que “do ponto de vista do setor comercial, a rápida implementação do mercado regulado de carbono seria muito benéfica, pois a introdução de eficiência nos sistemas comerciais resultaria em créditos que poderiam ser facilmente negociados no Brasil. Atualmente, os negócios existentes são voluntários, e a redução do desmatamento na Amazônia, embora bem-vinda, é realizada inteiramente com base em compromissos voluntários”, complementou.
Envolvimentos do setor privado e do consumidor na agenda climática
A conscientização do consumidor e o engajamento dos negócios em prol da agenda ambiental é outro tópico no qual o Brasil ainda falha. Segundo Paulo Pompilio, diretor-executivo institucional do Assaí Atacadista, as ações que a Nação tanto se esforça para serem praticadas no setor produtivo ainda só ocorrem de forma relevante nas grandes empresas, de forma que é essencial facilitar esse caminho, envolvendo toda a cadeia produtiva e o consumidor.
“O governo federal deveria estabelecer diretrizes regulatórias que não sejam apenas punitivas, mas colaborativas e de fácil implementação para as empresas. O maior desafio é criar um modelo de regulação que seja acessível e aplicável especialmente para as pequenas e médias companhias, permitindo que essas organizações possam aderir às normas de forma simples e eficiente, sem que isso represente um ônus excessivo”, sinalizou. “O Poder Público precisa falar sobre eficiência com esses empresários, e não só energética. Se eu falo de água, de câmara fria, estou falando de eficiência também. É preciso ser mais claro. Se o empresário entende que vai economizar com práticas sustentáveis, ele fará a aderência”, complementou Pompilio.
O evento, realizado na sede da Federação, em São Paulo, ainda contou com as presenças de Ivo Dall'Acqua Júnior, presidente em exercício FecomercioSP; José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade; as assessoras Cristiane Cortez e Alexsandra Ricci; e José Pastore, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho. Além do time da Entidade, estiveram presentes o senador Laercio Oliveira (PP/SE); o deputado federal Fernando Marangoni (União/SP); Vanessa Romero, gerente de Sustentabilidade das Casas Bahia; Lívia Lopes, headde Sustentabilidade e Impacto Positivo da Pernambucanas; Cíntia Kita, gerente de Sustentabilidade do Carrefour Brasil; e Andressa do Espírito Santo Borba, diretora de Impacto Positivo e Comunicação Corporativa da Leroy Merlin.
A Agenda Verde da FecomercioSP é composta por seis temas prioritários: 1) promover a economia circular e a logística reversa; 2) adotar padrões de consumo mais eficiente de água e eletricidade; 3) cobrar dos órgãos responsáveis pela área ambiental uma atuação eficaz no combate à poluição atmosférica; 4) regular o mercado de carbono; 5) acelerar a transição energética na direção de reduzir as emissões de poluentes; e 6) zerar o desmatamento ilegal. Conheça as 12 metas defendidas para um Brasil mais verde e acompanhe, nos links a seguir, os outros painéis realizados no evento.
Caminhos sustentáveis do varejo
O evento também trouxe empresas para discutir as estratégias utilizadas na relação com fornecedores e consumidores, visando a práticas sustentáveis. Andressa do Espirito Santo Borba, diretora de Impacto Positivo e Comunicação Corporativa da Leroy Merlin, destacou que, atualmente, “a companhia tem um olhar mais amplo sobre como a eficiência energética pode ser pensada do ponto de vista da solução para o lar, em vez de somente produtos isolados. O enfoque é sobre como trazer a pedagogia aos clientes acerca de como é ter uma casa eficiente a partir de diversos processos construtivos e de tecnologias para o interior.”
Lívia, head de Sustentabilidade e Impacto Positivo da Pernambucanas, por sua vez, relatou que a circularidade na cadeia produtiva do vestuário da companhia tem se transformado. “Hoje, a Pernambucanas precisa, para estruturar a amostragem de produtos, fazer o que chamamos de ‘mutilação’: cortar as peças para que o time de qualidade avalie aspectos como a qualidade do algodão. Esses produtos são analisados dentro de uma perspectiva de economia circular, ou como preferimos dizer, economia regenerativa.”
Já o Grupo Casas Bahia adotou um processo de gerenciamento de reciclagem de todos os resíduos gerados em toda as lojas e os centros de distribuição. Primeiro, todos os resíduos recicláveis das lojas são coletados — como papel, papelão, isopor e plástico — e consolidados em um centro de distribuição pela logística da própria companhia.“Depois, trabalhamos com cooperativas de reciclagem, que fazem a triagem e vendem o material como matéria-prima. No último ano, foram 3 mil toneladas de resíduos. Desde 2015, já foram mais de 35 mil toneladas. Nosso objetivo final não é aumentar o volume de material, mas desenvolver iniciativas que reduzam a sua produção”, ressaltou Vanessa, gerente de Sustentabilidade da empresa.
Por fim, Cíntia, gerente de Sustentabilidade do Carrefour Brasil, sinalizou que, dentro de uma ampla agenda sustentável da rede, uma das frentes de mensuração que a companhia tem almejado, mas que ainda se mostra desafiadora, é o impacto de produção da totalidade dos fornecedores de produtos, isto é, tudo o que é vendido nas lojas. “Isso traz uma complexidade relevante, pois envolve diferentes stakeholders em toda a cadeia, desde a produção até o descarte final. Diante disso, estamos desenvolvendo diversas ações para engajar a indústria nos nossos objetivos ambiciosos, reconhecendo que sem essa colaboração não conseguiremos reduzir as emissões de carbono”, concluiu.
Assista às entrevistas realizadas no evento de lançamento.
Acompanhe todas as iniciativas do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP nos links indicados.
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