Cenário pessimista, não por muito tempo, por Andre Sacconato

Economista e consultor da FecomercioSP analisa quadro mundial e reflexos no Brasil

 

As informações sobre o cenário econômico mundial estão cada vez mais complexas. E o cenário econômico nacional, principalmente nas últimas semanas, está muito relacionado a esses movimentos, e fica muito difícil, para quem não é especializado, acompanhar todos eles. Como devemos nos mover de acordo com essas consequências no dia a dia?

Este artigo, então, tem como primeiro objetivo entender por que os mercados mundiais ficaram tão pessimistas nas últimas semanas. A ideia é explicitar os movimentos que fizeram com que os agentes econômicos piorassem as expectativas para os indicadores econômicos. Depois, e mais importante, é entender o que isso pode significar para o dia a dia das empresas, dos investidores e dos consumidores do Brasil.

Para interpretar o cenário mundial, precisamos, primeiro, atentar-nos aos ciclos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) americano. O gráfico a seguir mostra o movimento dessa variável ao longo dos últimos anos:

As áreas hachuradas em cinza representam os movimentos de queda do PIB, ou recessão. Que lições podemos tirar desse gráfico? A economia claramente tem ciclos. E parece que o ciclo atual, de maior crescimento, em tempo do pós-guerra,já está em seu fim. Isso quer dizer que a economia americana já está próxima do que os economistas chamam de “freio de arrumação”, ou uma queda natural de preparação para o próximo ciclo. Esse fato já traria o PIB americano para um nível bem mais baixo entre 2020 e 2021.

Mas, desta vez, a baixa de ciclo vem acompanhada de algumas notícias ruins no mundo que podem exacerbar o efeito negativo. A primeira mostra que o fim do ciclo foi adiado por políticas expansionistas do governo Trump. Estudos mostram que o crescimento de 3,3% da economia americana de 2018 teve uma influência de 1,1% de estímulos do governo americano, dos quais 0,9% deve se dissipar nos próximos anos. Isso significa que, a partir em 2019, com o fim dos efeitos dessas políticas, o esforço para crescimento teria de ser muito maior.

A segunda influência é da guerra comercial e tecnológica com a China. A diminuição das exportações e importações com o país asiático tende a reforçar o viés negativo do PIB e do crescimento americano nos próximos anos.

Além disso, a guerra comercial tem efeitos em outros países: a Alemanha, tão industrial e dependente do comercio externo, já começa a mostrar sinais de enfraquecimento da indústria, que deve contaminar a Europa – já que o país é um grande importador de países na região. Soma-se a isso o impasse sobre o Brexit na Grã-Bretanha e as severas crises políticas na Itália e na Turquia.

Todos esses fatores já influenciaram o mercado financeiro, que mostra uma preocupação mais forte com a queda da economia. O índice de probabilidade de recessão já atingiu níveis parecidos com o do pré-crise, em 2008, e os rendimentos dos títulos de dez anos do Tesouro já estão com rendimento mais baixo que os de três meses, mostrando excesso de demanda por proteção em títulos mais longos, típicos de períodos pré-recessão. Somados a isso já temos, hoje, no mundo, mais de U$ 16 trilhões investidos em títulos com rendimento negativo, ou seja, com rendimentos que não batem a inflação, também um sinal de que investidores buscam segurança até mais do que rendimento.

O resultado dessa possível recrudescência do crescimento é que vamos ver mais uma rodada de incentivos à economia, tanto monetários quanto fiscais. Bancos centrais dos EUA, da Europa e da China já começam a realizar movimentos de baixas de juros e sinalizam uma nova onda de compra de ativos. Por outro lado, a aceitação de investidores de baixas taxas de juros pode incentivar os países a fazer política fiscal expansionista (aumento de gastos do governo) com expansão de dívida. O resultado prático desse processo será um mundo cheio de recursos e poucas opções de investimento com rendimentos razoáveis, ou seja, teremos um mundo de investidores buscando algo que possa lhe dar um rendimento decente.

E onde entramos nesse cenário? Como o Brasil deve ficar em todo esse movimento? O presente todos já sabemos. Saímos da maior recessão da nossa história, fruto de uma política econômica irresponsável e inconsequente e, agora, ao ajustar a bagunça feita, paramos de cair ainda mais – como imaginado, estamos crescendo pouco.

Você pode me perguntar: “Há espaço para otimismo mesmo em cenário internacional mais restritivo e uma economia nacional enfraquecida?”. Pois aí que temos as condições para a virada. Explico.

Apesar de uma recessão ou um crescimento menor do mundo ter o potencial de no, curto prazo, gerar turbulências na economia brasileira por causa de queda no preço de commodities e no valor das exportações, o efeito em médio e longo prazos pode ser muito benéfico. Para entender, vejamos o gráfico a seguir.

Não olhe a queda final, mas perceba que houve uma subida significativa entre maio e o fim de 2018. Essa mesma subida se deu na confiança do empresário. O que isso significa: que quando os consumidores e empresários viram um potencial reformador no horizonte, elevaram expectativas – e expectativas altas significam consumo e investimento. Do lado externo, tivemos dinheiro à vontade para investir, como vimos no cenário mundial. Mas com que condição esse dinheiro externo viria para financiar nossa baixa poupança externa? Se sentisse confiança no ambiente brasileiro de negócios.

É nesse ponto que estamos caminhando bem desde o governo Temer: reformas liberalizantes e desburocratizantes. Podemos citar várias aqui que já aconteceram:

1. Criação da TLP em vez da TJLP para limitar subsídios do BNDES;

2. Reforma Trabalhista;

3. Recuperação da credibilidade do Banco Central;

4. Reforma da Previdência;

5. Acordo com União Europeia;

6. MP da Liberdade Econômica;

8. Quebras do monopólio do gás;

E outras que já estão em avançado processo:

1. Intenção de baixar alíquotas de importação de alguns produtos.

2. Reforma Tributária em discussão;

3. Trabalho intenso no relatório “Doing Business” (Seme).

Estamos organizando a casa na hora certa, a fim de aproveitar a liquidez que virá. Ainda mais se percebermos que as potenciais alternativas a investimentos estão em situações política e/ou econômica bem complicadas, como Índia, Turquia, México e Argentina. Se conseguirmos estruturar bons projetos de investimento públicos (PPPs, PPIs e privatizações) em infraestrutura e projetos privados de consumo para mercado interno e exportação, temos um futuro positivo pela frente.

E as notícias boas não param por aí: em decorrência de uma situação ruim, de desemprego e ociosidade, temos espaço para crescer sem pressionar preços. A inflação dos últimos 12 meses e a projeção para o ano que vem estão abaixo da meta, o que abre espaço para redução de juros do Banco Central e queda no custo de investimento. Esse fato, somado à intenção do governo de abrir a economia para bens de capital, gera um cenário perfeito para investimento.

Assim, parece que estamos em um momento turbulento que antecede um bom ciclo de crescimento. Aquele momento em que vale a pena começar estudos e projeções para se preparar para um círculo virtuoso na economia. Rendimentos de aplicações financeiras de renda fixa vão cair, fluxos de investimento devem atingir o Brasil nos próximos anos e um consumidor que atrasou muito o consumo em razão do desemprego pode voltar lentamente ao mercado com a volta gradual da atividade econômica.

Ainda há espaço para cair mais os juros, mas é interessante que o empresário já comece a se planejar para esse futuro, que pode ser próximo. Quem aproveitará melhor esse cenário será aquele que estará mais bem preparado quando ele chegar. O quanto antes você conseguir responder a esse novo estímulo, maior serão os seus ganhos. Esse é o resultado da possibilidade de antever as oportunidades.

Andre Luiz Sacconato
Economista e consultor da FecomercioSP